quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Encontro com a Noite



Encontro com a Noite

Nas noites nuas e cruas eu me ligo e religo... Desligo!
Ouço toadas encastoadas ao som de tambores alegres, selvagens, ecoantes.
Nos terreiros festejam os orixás o encanto, a cor e a brandura de um ventre livre.
Candeias acesas ao vento me chamam ao encontro de sonhos e fantasias...
Serenatas acabrunhadas fazem mimos aos amantes.
O silêncio acalma e acolhe os sussurros e gemidos de almas apaixonadas.
Canta o galo, o rei da madrugada.
Entrega o ventre a dama sonolenta, sem sequer entender o que a acalenta...
As luas claras, aladas, assanhadas, dançam leves, suaves
Aos ventos serenos molhados, úmidos da orvalhada...
Nas cataratas borbulham águas cristalinas espelhando a luz da estrela Dalva.
Sob nuvens ensandecidas e ventos despercebidos, a lua lambe as calçadas.
É com os vampiros que falo e fujo ao tilintar de ecos celestes, retumbantes, isolados...
Sombras gigantes se afloram e desenham formas na grama molhada...
Braços rupestres em acenos e em festa comemoram a alvorada.
Margaridas se beijam em festa, copos de leite se abrem ante a garoa gelada.
O orvalho farto navega nas folhagens, que com ternura oferecem o fluido ao firmamento.
Saudade da passarada, que antes só cantava e hoje chora triste seu lamento.
Ouvem-se acanhadas e despistadas passadas, como se ilegal fosse a caminhada
a sondar os segredos das cascatas, densas, longas, calmas, agitadas.
A selva canta pela madrugada, disfarça seus perigos, abriga cantos, silvos e ninhadas.
No embalo da brisa retirante principia o alvoroço intrigante de seres ao despertar na madrugada.
Presságios animalescos captam os sons das passadas firmes de uma manada.
Insetos raros, alados, se cruzam como coriscos em diferentes zumbidos...
Na caravana celeste; pirilampos aparecem e oferecem suas luzes da ribalta.
Caranguejos e répteis correm ao encalço de suas presas cansadas.
No gélido chão da mata escura, repousa tranquila a fera indomada
Comportas se abrem e naves reviram os céus, os amores, as dores.
A noite guarda tantos enredos e segredos, desde lamentos, choros e desejos,
risos, romances, serenatas tantas, em doces sonhos e reais lampejos
O universo inteiro segue seu curso natural, oportuno, normal, ante os olhos perdidos do hominídeo e a perplexidade e a dor do animal.
Enquanto não chegam as chuvas de verão e as mudanças de estação, as noites, com seus mistérios, segredos e fantasias convidam todos a sonhar, vibrar, amar e despertar de um triste ou lindo sonho!... Assim segue a vida...

Maria Raquel de Oliveira Souza

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Rumi

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